Archive for the 'Família' Category

Orquídeas no jardim

No jardim da minha casa tem orquídeas. Orquídeas das quais minha mãe cuida como as carolas da batina dos padres.

Tem a branca do canto direito, uma violeta, uma laranja, uma branca com o centro violeta. Eu nunca dei muita atenção às tais orquídeas mas sei como elas apareceram em casa. Um dos últimos passeios que lembro de ter feito com meu pai e minha mãe juntos foi uma visita à uma exposição de orquídeas. Nesse dia meu pai comprou alguns dos exemplares que estão até hoje tão devotamente cuidados no quintal.

O fim de semana que passou fui visitar o jardim botânico de Bogor, um dos maiores da Ásia, que pra minha supresa tinha orquidário. Fiquei horas perdida em meio a orquídeas e lembranças. Dizia que se existisse um Éden pra minha mãe sería aquele. E de fato a idéia da existência de Deus (alah, ou quem seja) vinha à minha cabeça em cada detalhe de cada pétala, na perfeição da distribuição das cores, na sedução silenciosa das orquídeas.

Acabei comprando uma, igual às brancas com lilás que temos em casa. Está no meu quarto ao lado da minha cama e todas as noites antes de dormir, ou as manhãs ao acordar fico alguns momentos admirando e vivendo as pequenas memórias que me trazem. E em esses 5 minutos do dia encontro um espaço para recuperar minha fé.

23 de fevereiro

Lembro das pequenas manias que, se antes me irritavam, hoje tenho saudades. Tirar a meia quando ele chegava do trabalho, descer as escadas correndo pro beijo de boa noite depois de esperar pra jantar juntos, ficar tentando descobrir o que ele quer enquanto ele aponta pra algum objeto na mesa sem emitir nenhuma palavra, descer dois lances de escadas pra passar o saleiro que estava a um metro e meio do seu alcance, passar creme na perna desidratada, cuidar de alguma ferida, espremer os cravos, pegar gelo.

Penso que meu gosto por música é culpa sua. Acordar nos domingos de manhã com o som da casa na última altura. Normalmente a nona do Bethoven, Amor Brujo do Manuel de Falla ou o Bolero de Ravel. Quando estava mais animado era algo como Elis, Milton, MPB4 e em alguns dias mais raros Beatles e Simon e Garfunkel.

Lembro de cantar no carro enquanto faziamos viagens longaas, pra Caldas Novas, Serrinha e outras assim. O hino da Marinha (cisne branco que em noite de lua…), o hino do Roldão (lopes de barros), a música da bananeira, irmão sol e irmã lua (aleluia). Depois tinha também ouvir Legião (Faroeste Caboclo), Titãs (Homem Primata) e Paralamas (se as meninas do leblon não olham mais pra mim, eu uso óculos).

Lembro das músicas que ele costumava cantar e ninguém entendia. Dessas músicas de infancia que só ele era capaz de lembrar.

Lembro do relógio de madeira que a gente construiu quando eu era bem pequena pra eu aprender as horas, lembro de algumas aulas de física 3 dedos em pé tentando entender como se forma o campo magnético, as infinitas tentativas de me explicar frações, proporção (e o inversamente proporcional) e porcentagem, além de claro, resistencia e eletricidade (que eu nunca mesmo aprendi).

Lembro de ligar pra ele porque estava perdida no carro em algum lugar (não, eu não herdei o seu incrível senso de direção, muito pelo contrário), de pedir ajuda porque tinha que decidir sobre algum novo emprego, de dançar com ele na formatura. De contar os planos do futuro, desde ser astronauta (aos 6), atriz (aos 12), jornalista (aos 15), publicitaria (17), diretora de planejamento (21) e por fim um dia quem sabe trabalhar na ONU (24) – esse último ele não chegou a ver realizado.

Lembro até hoje da cara dele quando, no pré, eu fui oradora da turma e por saber meu texto de cor resolvi não ler o texto (que era o ponto da formatura, mostrar pros papais que sabiamos ler). Lembro o sorriso pequeno que ele abriu quando a professora veio outra vez colocar o texto na minha mão. Lembro que ele filmou a formatura e na filmadora, em 88 ou 89, fez uma edição pro texto que eu li aparecer no filme. Lembro quando ele preparou meu aniversário desse ano, com imagens do mikey e da mini e bixigas que caíam do teto.

Lembro de ele apoiar todos os sonhos mais absurdos, incluindo gravar uma fita comigo cantando pra tentar entrar no Balão Mágico. Lembro dele sempre encontrar a maneira de fazer os nossos gostos, fosse como fosse. Lembro de aprender a acampar, dirigir, pegar ônibus e disso tudo, ser independente.

Tenho rastreado em cada parte de mim exatamente onde tem o dedo dele. E é assim que sinto ele do meu lado até hoje.

E como não podia passar em branco. Feliz aniversário.

52

(la foto es de Fer)

(la foto es de Fer)

ando sem inspiração para escrever um post. entre o trabalho e as saudades me esforço para superar os 52 dias que faltam pra eu voltar pra vida que sonho ter. Não posso nem reclamar mais, o trabalho está bem, os projetos interessantes, o tempo curto. O coração está cheio, tomado por um posseiro que faz uns dois anos se instalou e agora já tem dom de proprietário quase que por uso capião autorizado. Os amigos longe mais presentes que nunca e a família, quem me conhece sabe, é sempre motivo de felicidade.

Ainda assim, luto para passar esses 52 dias. E alguém sábio vai me perguntar o porquê. Talvez porque o trabalho não é tudo na vida e a distancia do tal posseiro vem corroendo de pouquinhos o estômago dessa que vos fala. Talvez porque existem dores que não passam e tomam muito tempo para que você se acostume a viver com elas. Talvez porque todas as noites antes de dormir um par de pensamentos não deixam que a noite de sono seja de descanso. A idéia de estar longe, de não haver estado e de seguir não estando é extremamente consumidora das minhas horas de sono.

Talvez porque quando você está longe e sozinha todas essas coisas que todos nós pensamos todos os dias e que escondemos atrás da ocupação, das cervejas e das conversas, são sua única companhia e fazem um processo tortuoso de transformação diária.

Talvez porque as preocupações com o futuro que chega em 52 dias sejam maiores que a tranquilidade com os 52 dias que existem.

Talvez porque uma espiral ilógica de preocupações sejam minha maneira de compreender parte da minha vida agora: se eu tenho emprego estou longe, se não estou longe não tenho emprego, se não tenho emprego não vivo, mas longe não consigo viver mais… e como se sai disso mesmo?

Talvez porque ultimamente nem os mantras resolvem mais… E rezo, e rezo, e rezo… E espero, e espero, e espero…

disparatada.

de niña mi mama decía que yo era el sol de la casa. siempre sonriendo, cuando entraba en cualquier lugar mi pequeña felicidad llenaba las habitaciones. era la más inocente de los tres. estaba siempre contenta por todo, saltando de un lado a otro, feliz con cualquier descubierta, como todo ingenuo del mundo lo es. me extraño así. porque me encantaba. me encantaba escuchar cada vez que mi mama decia, que yo era el sol de la casa.

quando o universo te socorre ou quando o msn é a sua mais verdadeira fonte de felicidade.

Hoje eu acordei meio estranha, muito cansada (pela noite de sono bem mal dormida), um pouco preocupada com problemas alheios (leia-se de amigos) com uma vontadezinha de chorar dessas que eu tenho quando não estou 100% e estou de TPM, o que é o caso.
E eu sei que ontem foi dia de festa mundial pela posse do Obama, mas quem se importa eu não tô no clima, sabe como é?
Enfim, o que importa é que cheguei assim no escritório, com vontadezinha de chorar e lagriminhas caindo do cantinho dos olhos (que eu não deixo ninguém ver).
E aí o MSN Universo veio a meu socorro. Recebi o e-mail mais lindo da minha mãe, como sempre me dando uma lição de vida porque minha mãe é foda. Quando terminei de ler, minha melhor amiga resolveu falar comigo e no meio disso um amigo mais que querido que eu considero muito e que não falava comigo (não por briga mas por desencontro) fazia um montão decidiu aparecer.
E assim, com duas horas da manhã dedicadas a dedicar-me a essas pessoas parece que acordei de novo. E cheguei feliz no trabalho. Tão feliz que resolvi deixar um post agradecendo, ao universo, ao msn , à minha mãe, à amiga e ao amigo e a todo mundo que de algum jeito compartilha comigo minha vida. (Nem que seja um estranho qeu de vez em quando entre pra ler o blog).
Assim que fica o obrigada e uma imagenzinha brega pra completar o tom emotivo novela mexicana do post.

feliz1

Top 5 2008

Eu me prometi 100 vezes que não ía fazer isso. Não ía fazer a retrospectiva, o balanço de 2008. Até porque muitas vezes eu acho que 2008 nem acabou ainda. Mas não foi possível porque a tentação é muito grande. Então vamos lá, top 5 2008, 2008 colocado em 5 grandes líneas.

1. Ano de conhecer o mundo:

2008 começou com voltar pra Madrid, ir pra Barcelona em março, conhecer Granada, em julho ir pra Itália e conhecer Roma, Florença, Lucca e Veneza, daí ir outra vez pra Granada, e pra Ávila, Segóvia, Salamanca, ir pro Egito, passando por Asswan, Luxor e o Cairo, pra Berlim, pra Bonn e por fim pra Indonésia, passando por Jakarta, Bali, Yogyakarta e Lombok.  Nunca viajei tanto. Só agradecendo muito mesmo!!!

2. Ano de estar longe:

Porque uma vez mais estava eu longe da mamis, dos irmãos, dos tios tias e toda família, dos amigos e nos últimos três meses também do namorado. E estar longe dói.

3. Ano de chorar e rir muito:

Chorar a ausência do pai, rir na visita de amigos e ainda mais na visita da mãe e da irmã. Chorar nas despedidas e rir nos reencontros. Chorar a perda de uns, sorrir pelo encontro de outros. Chorar a distância e sorrir a presença do meu companheiro.

4. Ano de não terminar:

Porque pra mim o ano só termina em abril. Porque não terminei a tese, nem o mestrado, nem o trabalho, nem…(e nem sei se vou terminar)

5. Ano de sonhar:

Porque no meio de tanta coisa e tanta viagem, e tanto lugar novo, e tanto ter uma pessoa linda comigo, e tanto conhecer e admirar mais minha mãe, minha irmã e meu irmão, e tanto conhecer o lado mais lindo das pessoas, sonhei muito. Sonhei com todos os lugares que quero ir, com os lugares que quero voltar, com um mundo mais ou menos um pouco mais justo (porque eu sonho mas sou realista), com todos os caminhos por seguir, com a vida por levar, com o trabalho por fazer, com todas as coisas por realizar.

Se dá pra dizer algo, é que 2008 foi um ano muito vivido. Pro bem e pro mal!

De volta…

De volta mais tarde do que esperava mas as semanas pós viagem foram tão conturbadas que acabei não vindo escrever e agora não sei por onde começar. Mas vamos lá, curtas da viagem:

– Viajar com a mamãe e a irmã depois de tanto tempo é tudo de bom!

– Comer massa TODOS os dias da viagem também!

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Roma – Mãos ao alto, isso é um café!

Cidade cara da preula. Pior, quente. Tá é lindo, o Coliseu, o Forum Romano e tudo aquilo… Mas pagar 17 euros em dois nestea e uma breja é absurdo.

Depois que você entende as raízes, porque o jeitinho meus amigos não é brasileiro, vem dos tempos do grande império e a gente (e os italianos) insistimos em manter a prática.

Por fim, sonho realizado e capela sistina vista. Mas devo dizer que doeu pagar os 14 euripedos pro vaticano pra olhar a quantidade de dinheiro que os caras têm. Comentário lugar comum, mas necessário.

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Florença:

Sem comentarios, tudo de lindo. O Uffizi é um sonho, como toda a cidade. O rio, a ponte Vecchio, o David. Aaaaaaaaaaaaa o David, o David sim é um sonho. E sim, tem que pagar 10 euros pra ir ver o orginal porque o original é muito mais legal.

Depois que em florença houve sorte. Sorte porque pegamos um Festival de Verão de Orquestras Jovens e numa noite assistimos ao concerto da Orquestra Jovem de Extremadura, que tocou a sexta do Bethoven mas muito mais surpreendentemente e apaixonadamente El Amor Brujo do Manuel de Falla. Me lembrei dos domingos de manhã que meu pai acordava a gente, quase sem querer, com um trecho de Amor Brujo no último volume. É sem dúvida uma das melhores memórias do meu pai…. e se a viagem inteira foi sobre ele, esse momento foi indescritível.

Lucca foi outro sonho. A cidade do vovô é linda, e pelo menos lá a gente achou um médico na família. Destaque pra exposição de 150 anos do nascimento do Puccini. E eu que nem sabia que o Puccini era de Lucca.

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Veneza:

Veneza não existe. é uma cidade inventada pelos sonhos que alguém. Continuo apaixonada pela cidade. Poderia passar todo um dia sentada em alguma daquelas pontes olhando para o nada. E não vou fazer mais comentarios que isso. Me faltam palavras pra esse lugar…

Fim da viagem. Volta a Madrid e vida normal, ou não…

so long, farewell, goodbye…

mas só por duas semaninhas.

Dada a ilustre visita da mamãe e da irmã por estas terras, vamos de viagem por uma semana e meia pela Italia e se tudo der certo estico até Praga. Então o blog fica abandonadinho mas com a promessa de voltar com um milhão de historias da viagem e uma página especial com dicas de madrid (já era hora depois de um ano e 8 meses vivendo aqui).

Aquele abraço…

ps. a referencia da música da noviça rebelde é porque eu devo ter visto esse filme com minha mãe mil vezes de pequena (e quem queria ver sempre era ela!). Então fica a homenagem rs…

Coisa de família

Na quinta feira fui no jantar de encerramento do ano do Mestrado (aqui o ano escolar acaba em junho). Na verdade minha vontade de ir era bem meia boca já que eu não me dou muito bem com a desorganização do mestrado. Ainda assim, era um restarurante mexicano, a diretoria pagava, íam uns 3 amigos e bebedeira grátis boca livre a gente nunca nega. Chegando lá nos sentamos eu dois amigos e um professor que resolveu começar a contar a história da sua vida. Eu como quase não falo comecei a compartilhar a minha infancia… Um desastre, mas veja bem, a história é interessante.

Começa que eu sou era cega. Então quando era bem pequenininha eu vivia perdida. Ninguém entende o desespero de ir acampar e não descobrir entre tantas barracas iguais qual era a minha. Minha mãe sempre conta que de vez em quando ía um casal me levar até minha barraca porque tinham “me achado” na sua. Pior que isso, o desespero de sair do mar e achar a sua própia mãe. Porque veja bem, o mar tem correnteza, a correnteza te leva pra um pouquinho longe de onde você entrou, e você ser humano pequeno, cego e com os olhos cheios de sal tem que descobrir entre os 15o guarda-sóis exatamente iguais qual é o seu. Pior é o sadismo da sua família que de longe já te viu perdida e fica esperando pra ver quanto tempo você demora pra chegar no guarda sol. E quando chega (com todo mundo definitivamente rindo da tua cara) ainda toma bronca por ser muito distraída. Depois na escolinha também dava problema. Imagina o seguinte, a professora dizia: desenha uma árvore. Todas as criancinhas faziam lindas macieiras (duvido que alguma tivesse visto uma macieira na vida) e eu fazia duas grandes bolas meio verde meio marrom. Desenha uma casa, e outra vez as criancinhas perfeitas com os desenhos perfeitos e eu desenhando uma mancha amarela que era o sol, um borrão redondo que era a porta e por aí vai… certeza que a professora achava que eu tinha graves problemas mentais mas achou melhor nunca comentar com a família…

Finalmente no pré uma santa professora resolveu achar que talvez eu fosse meio cega. Isso porque eu era alta e ela me colocava na última fila e eu não via coisa nenhuma na lousa. Pra quem achou que o problema acabava aí, ledo engano. Ledo engano porque criança de óculos na escola é zuada, mas criança que depois de um tempo, lá pelos 10 anos usa óculos, aparelho e aparelho externo (aqueles que ficam pra fora da boca cobrindo todo rosto) é MUITO zoada (porque criança é que nem família, sádica). Daí veio o meu segundo pior apelido: ROBOCOP (a história do pior fica pra outro dia porque blog também é terapia).

Ainda assim eu me auto julgava uma criança feliz que gostava de subir em árvores, andar de carrinho de rolimã , pegar rabeira em caminhão e coisas assim… e que de quando em quando quebrava o óculos. Até que a mãe se cansou e resolveu não comprar mais óculos novos. Então passou a consertar os óculos com durepox e durex. Sinceramente, vamos recapitular: a criança tinha óculos remendado, aparelho e aparelho externo – por certo, o aparelho externo foi idéia da tia dentista, eu acho que todo dentista é sádico e acho que tia (família) e dentista é sadismo ao quadrado. Qualquer psicólogo diria que isso era um exercício mortal na destruição da auto estima de um ser humano, minha família achava sano. Coisa de família.

Muitas outras histórias depois (que ficam guardadas para futuros posts) com uns 14 anos, na sétima série, eu consegui convencer minha mãe que era hora de tirar o aparelho (o aparelho externo eu consegui quebrar com 10 anos mesmo e nunca mais voltar a usar) e colocar lentes de contato (ainda que depois eu perdesse umas duas por ano). Pra dar uma idéia, fiz o Extreme Makeover nas férias de julho, quando voltei pro colégio meu melhor amigo achou que eu era aluna nova…

Sem comentários.

ps.lembrei de tudo isso pela chegada da mamãe e da irmã – coisa uqe via ser assunto do blog por pelo menos uma semana que é o tempo que falta pra elas chegarem.